Saturday, May 20, 2006

Entrevista para o Jornal da Esperança de Brasília

Aldir Guedes Soriano é graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de Londrina - Paraná - UEL, e em Direito pela Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE de Presidente Prudente SP. No inicio de sua carreira profissional exercia a medicina veterinária, mas após tornar-se evangélico começou a sentir um profundo interesse pelas questões envolvendo a liberdade religiosa e a cidadania que o levou a fazer o curso de direito, visando uma melhor atuação nesta área. Hoje, é o vice-presidente da ABLIRC - Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania, para a qual, dedica tempo integral. É autor do livro: Liberdade Religiosa no Direito Constitucional e Internacional, e de vários artigos em jornais e revistas. Casado com Aimara Lopes Barreto, cirurgiã dentista, com a qual tem um filho, Lucas de cinco anos. Ultimamente está residindo em Brasília.
Nesta entrevista ele fala da importância da liberdade religiosa como um dos direitos fundamentais da pessoa humana.

Esperança: O que levou o Senhor a deixar a medicina veterinária para tornar-se advogado?
Dr. Aldir: Quando eu comecei a estudar a Bíblia passei a ter mais interesse pelas questões de liberdade religiosa no sentido mais amplo da palavra. Alguns textos bíblicos me chamaram a atenção tais como São Mateus 5:10, onde lemos: “Bem aventurado os perseguidos por causa da justiça porque deles é o reino do Céu.” Todo este capitulo cinco de São Mateus onde encontramos o maravilhoso Sermão da Montanha nos oferece uma cartilha de como viver bem em sociedade. Ele mostra que o ser humano deve ter uma atitude de compreensão e tolerância para com o seu semelhante. “Bem aventurado os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus”Mateus 05:9. Jesus afirmou que todos que querem servi-Lo sofrerão perseguições, e nos versículos 10 e 11 Ele afirma: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.” Com relação a liberdade religiosa Jesus sempre demonstrou uma atitude bem diferente dos Seus discípulos, o que mostra o Seu interesse por este tema e por essa linha de raciocínio que eu me pauto.
Esperança: Como tem sido a sua atuação nesta área?
Dr. Aldir: A monografia que fiz na conclusão do curso de direito abordou este tema. A partir deste trabalho, e com ajuda do professor Celso Ribeiro Barros, que foi um grande constitucionalista, publiquei o livro Liberdade Religiosa no Direito Constitucional e Internacional.
Com freqüência escrevo artigos, participo de discussões a respeito e mantenho contato permanente com autoridades políticas e jurídicas.

Esperança: Como surgiu a ABLIRC?
Dr. Aldir: Em 2004 conheci o professor Samuel Luz que é o atual presidente da ABLIRC. Ele já havia organizado o I Fórum de Liberdade Religiosa e ele me convidou para dar uma palestra no II Fórum de Liberdade Religiosa realizado na Câmara Municipal de São Paulo em novembro de 2004. Naquela oportunidade sugeri que formássemos uma associação para promover a liberdade religiosa e a cidadania. Daí para frente fizemos contatos com outras pessoas e a idéia prosperou e hoje a ABLIRC é uma realidade.
Esperança: Quais os objetivos da ABLIRC?
Dr. Aldir: É uma organização da sociedade civil que tem por objetivo fundamental promover a liberdade religiosa e colaborar no exercício da cidadania. Ela é uma ONG que auxilia o governo a desenvolver os direitos de cidadania. A sua atuação passa pela educação em direitos humanos. Trabalhamos com publicações, seminários, palestras e utilizamos todos os meios de comunicação disponíveis. A ABLIRC está registrada como: Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania.
Esperança: Qual é o relacionamento interdenominacional da ABLIRC?
Dr. Aldir: Todas as pessoas são convidadas a participar independente de religião ou raça. Pessoas de varias denominações religiosas fazem parte de sua diretoria. Todas as religiões tem liberdade de culto e até mesmo os ateus tem a liberdade de não se filiarem a nenhum segmento religioso.
Neste contexto temos os grupos religiosos de origem africana que ainda são vítimas de discriminação. São problemas delicados que merecem a nossa atenção.
Como Adventistas do Sétimo Dia, graças aos nossos antecessores neta área, já conseguimos alguns resultados positivos. Por exemplo: não temos eleições no sábado e em alguns estados brasileiros não se realizam concursos públicos neste dia. Em várias Universidades tem sido facultada aos adventistas a oportunidade de prestarem vestibular após o por do Sol de sábado e, creio, ser um momento oportuno para agradecer as autoridades que têm compreendido esta situação. Hoje desfrutamos de uma liberdade religiosa no sentido jurídico positivado. Temos a liberdade religiosa assegurada na constituição e também desfrutamos de garantidas internacionais. Em 1979 tivemos o tratado internacional que assegura o direito das minorias religiosas.
Esperança: A Igreja Adventista do Sétimo Dia mantém um Departamento de Liberdade Religiosa a nível local e mundial, qual tem sido o relacionamento da ABLIRC com este departamento?
Dr. Aldir: A nossa Associação foi criada em nove de novembro de 2004, assim, funciona a menos de um ano. Assim, ainda não deu para estruturar este relacionamento. Mas é o nosso propósito mantermos um vínculo bem estreito com a Igreja Adventista do Sétimo Dia, pois temos propósitos afins. A Liberdade Religiosa é um tema que exige permanente discussão e vigilância. É bom que se diga que todas as religiões são permeadas de algum resquício de intolerância. Todo o ser humano necessita se reeducar neste sentido, todos nós temos que nos matricular nesta escola. Para tanto é necessário arregimentar todas as forças possíveis para manter esta chama ardendo com vigor.
Esperança: Existe alguma organização internacional que fomente a Liberdade Religiosa?
Dr. Aldir: Sim! a Internacional Religioso Liberty Association - IRLA. Ela está presente em mais de sessenta países e funciona a mais de cem anos. E nós vamos fazer contatos com a IRLA para somar esforços nesta área. Esperança: No inicio da entrevista o Senhor fez menção de Jesus como modelo de tolerância. Em que aspectos o comportamento dEle era diferente do de Seus discípulos?
Dr. Aldir: Realmente Jesus deixou um modelo de tolerância bem diferente do que preconizavam os Seus discípulos. Em vários momentos esta diferença ficou bem clara nos evangelhos. Jesus colocava o plano da salvação diante das pessoas. Elas tinham a liberdade de aceitarem ou não. Às vezes por considerar que tem a verdade alguém se acha no direito de forçar as pessoas a aceitarem o seu ponto de vista e isso pode acontecer entre os melhores cristãos. Foi este pensamento que resultou em séculos de perseguição religiosa. É muito fácil passar de tolerante para intolerante. Em nome da “verdade” muito sangue foi derramado. Mas Jesus respeitava o livre arbitro das de Seus ouvintes. O jovem rico se afastou triste enquanto Levi deixando tudo O seguiu. Jesus nunca forçou alguém a segui-Lo e muito menos tratou com frieza as pessoas descrentes. São Lucas no capítulo 10 relata que certa vez os Samaritanos não permitiram que Jesus pernoitasse em uma de suas aldeias. Revoltados, os discípulos solicitaram que Jesus lhes permitisse fazer cair fogo do Céu para destruir os samaritanos. Mas Jesus repreendeu-lhes dizendo: “vós não sabeis de que espírito sois.” E “saindo dali foram para outra aldeia.”
Na parábola do trigo e do joio quando os trabalhadores descobriram o joio misturado com o trigo propuseram arrancar o joio e destruí-lo. Mas o pai de família não permitiu que o joio fosse arrancado. Deveriam deixá-lo crescer junto com o trigo.
Os discípulos tinham os mesmos problemas que têm os homens hoje. Um destes problemas é a tendência à intolerância. Eles estranharam a conduta de Jesus para com a samaritana. Existiam preconceitos políticos, étnicos e religiosos, mas Jesus não perdeu a oportunidade de ser tolerante e Cortez. Ao dar atenção a aquela mulher, uma cidade inteira foi levada a ouvir as boas novas do Evangelho.
Esperança: Qual deve ser a atuação das autoridades neste contexto?
Dr. Aldir: Como a liberdade religiosa é um direito constitucional, este direito vincula o legislativo, o executivo e o judiciário. Cada um destes poderes deve exercer o seu papel dentro da sua esfera de ação. Cabe aos órgãos públicos fazer valer este direito, levando as discussões nos fóruns apropriados e envolver a classe política nas discussões. As propostas, uma vez aprovadas pelo legislativo são encaminhadas para o executivo e após a sua confirmação tornar-se lei. Mas o processo não termina ai, pois cabe ao judiciário fazer cumprir a lei. O acompanhamento da sociedade em todas as instancias do processo é importante. Pois em suma a elaboração das leis e a reivindicação para o seu cumprimento delas partem da sociedade interessada.

Esperança: Existe algum ponto que a ABLIRC julga necessário um tratamento mais urgente?
Dr. Aldir: O ensino religioso nas escolas é um assunto delicado e que tem gerado muita discussão. É muito fácil que um professor que professe uma religião qualquer se arrogue o direito de forçar a prática da mesma por parte de seus alunos. O Brasil é muito grande e é difícil saber o que esta acontecendo nos lugares mais afastados deste país. Como Adventistas do Sétimo Dia desejamos que a liberdade de observância do sábado como dia de guarda seja respeitada no trabalho, nos concursos públicos, nas votações políticas e em nossas atividades religiosas.
Esperança: Em Goiânia, a justiça determinou que uma igreja fosse aberta para a realização de uma cerimônia de casamento, ante a recusa da liderança, ao constatar, que a noiva havia infringido princípios da igreja. Como o Senhor viu este caso?
Dr. Aldir: Este foi um fato lamentável. Qualquer organização religiosa tem as suas normas e estatutos e o membro voluntariamente, ao ingressar, assume o compromisso público de acatá-los. Qualquer ação que venha a forçar a igreja a alterar a sua postura, tratá-se de ingerência externa e violação da liberdade religiosa. Neste caso, a violação se fez não contra o membro, mas sim, contra a instituição. Fim da entrevista

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